domingo, 13 de março de 2011

Procura-se um boteco de estimação...


Domingo de manhãzinha, mas não tão de manhãzinha assim é claro, como todos já estão carecas ou quase de saber é o dia universal da ressaca! E pensando nisso, comecei a lembrar de todos os botecos que por alguma misteriosa razão fizeram parte da minha, não tão longa, vida boêmia. Não me importando se foi por muito ou pouco tempo. E como já disse Cazuza, grande poeta e exímio conhecedor de botecos e afins “O banheiro é a igreja de todos os bêbados”. Bem, não precisa ser um gênio para entender de que banheiro ele estava falando. Ou seja, a relação entre o indivíduo e o boteco requer certa confiabilidade por parte do primeiro no segundo. E como recordar é viver... Tudo começou em um sábado à tarde, lá pelas 18h00, eu e alguns amigos, entre eles minha querida Sônia Cirrose, juntamos as moedas (Que não eram muitas...) e adentramos ao mundo dos degustadores de cerveja em uma padoca na Cidade Dutra, zona sul de São Paulo. O lugar era zoadinho, mas a cerveja estava gelada e nós com sede e calor. Todavia, o amor entre meu grupo de amigos e a padoquinha não passou de um encontro casual, o vulgo uma noite e nada mais.                                                                     
No sábado seguinte, feito bons adúlteros, trocamos a padaria pelo antigo lava-rápido do mesmo bairro. O bar não era tão sujo, apesar disso tinha um suco horrível, mas como boteco não é  lugar de beber suco, não é mesmo? Além disso, a cerveja era gelada e lá tinha um adicional e tanto: boa música! Sim! Ronaldo, que até ficou brother da turma, tocava clássicos (na nada humilde opinião dessa que vos escreve) como Marisa Monte e Djavam. E lá nós passávamos os nossos sábados, muitas vezes até de madrugada! Bebendo, cantando, bebendo, rindo, bebendo, amando, bebendo discutindo política, bebendo mais ainda e chorando. Sim! Pois, não existe lugar melhor em todo o universo para uma boa depressão, daquelas que aparece logo após você levar um pé da bunda, do que o seu boteco de confiança. Mas, como tudo que é bom acaba, um dia o lava-rápido fechou.                                                                                                                                
Nós então órfãos, que nos tornamos, após um tempo encontramos um novo lugar para chamar de nosso e curar assim nossas crises existenciais, o Karaokê do Alisson. O bar era meio limpo, não tinha suco, mas a cerveja era gelada (como sempre.). Além disso, valia a pena estar lá só para ver os frequentadores habituais e dançarinos quase talentosos que circulavam pelo ambiente. Todos vestidos à caráter como se fossem padrinhos de um casamento entre a viúva Porcina e o Clovis Bornay. Lá nós até nos sentíamos convidados da tal festa. Claro, que não passávamos de primos pobres em meio aos donos da festa. No entanto, adivinhem só? É, o Karaokê do Alisson, também, fechou.                                                          
Foi quando resolvemos deixar a Cidade Dutra e ir para o Parque Maria Fernandez, na Tuca Pizzaria além de uma pizza “regular” (acho essa uma das piores palavras da Língua Portuguesa), tinha sucos, porções dignas de serem consumidas e cerveja bem, muito, estupidamente gelada! Além disso, graças a Sônia Cirrose, lembram-se dela? Nós tínhamos conta no estabelecimento, ou seja, comíamos e bebíamos mesmo sem ter nenhuma moeda no bolso e pagávamos depois, bem depois mesmo! E a música ao vivo. Adooooooooro! Ah! Quantas vezes cantei, chorei e bebi mais ainda ao som do Buiu, que também virou brother da turma. Lá nasceram amizades e amores, que como a pizzaria, também, acabaram. Sim! Um belo dia o Buiu resolveu deixar a Tuca ou foi à Tuca que resolveu deixar o Buiu? Nunca entendi essa história direito. Eles até tentaram, mas ninguém podia ocupar o lugar do nosso brother naquela pizzaria e nós em parte por protesto e em parte por que só pizza não era o bastante para nos manter ali, deixamos o lugar, que acabou fechando tempos depois.                                                                      
Cansados, sedentos e já escolados em relação a botecos, nos refugiamos no Bar do tio Bigode. Lá, tinha muito refrigerante (o tio Bigode era um ambiente familiar ou tinha pretensões de sê-lo!), cerveja às vezes gelada, bebidas populares (algo entre maria-mole e bombeirinho, além da famosa farmácia!) e espetinhos, o conhecido churrasco de gato. E para ganhar os novos clientes e por já conhecer a Cirrose, sempre tão popular em estabelecimentos desse tipo, ele também nos concedeu uma conta. E lá nós ficávamos nos sábados e, também, nos domingos com aquele ar de quem finalmente tinha encontrado o seu espaço no mundo. E começamos até a acompanhar o conhecido grupo de samba do bairro “O comunidade do Samba”, com suas já populares oito saideiras ao final de cada show. No entanto, graças a uma cabelereira oxigenada e mal amada, o tio Bigode acabou fechando o nosso já querido boteco e antes disso  “O comunidade do Samba” também acabou. O pior é que a turma foi pelo mesmo caminho, ou seja, eu fiquei sem boteco e sem amigo!                                                                   
Assim, acabei voltando para a Cidade Dutra e com novos amigos tão carentes de boteco como os anteriores eis que encontramos o Barbaridade, um bar meio limpo, meio sujo, mas bacaninha! Com boa música, boas porções e cerveja gelaaaaaaaaada. Lá, nós figurinhas carimbadas do estabelecimento fizemos grandes evoluções no mundo pré AA. Foram muitos porres, algumas vezes a confiabilidade chegou ao ápice, lembram-se da música do Cazuza? Além das bitoquinhas, cada vez menos bitoquinhas... As noitadas começaram a se estender seguindo um trajeto determinado: primeiro o balcão de bebidas do Extra-hipermercados e depois a casa de alguém do grupo. Contudo, um belo dia transformaram o nosso boteco em um Snooker Bar! Foi o fim do Barbaridade!                   
Por isso, apesar de cansados nessa luta vã e inglória, voltamos a procura de um novo boteco de estimação. Primeiro paramos no 'Cortiços Bar', também na Cidade Dutra, propriedade dos mesmos donos do Barbaridade. Mas, não passava de uma cópia mal feita do nosso antigo boteco, só um pouco mais sujo é claro. Cerveja morna (apesar de eu não ter bebido cerveja lá), suco com gosto de barro, péssima acústica e serviço. Ah, mas as porções até que eram boas, porém estávamos quase todos de dieta.                              
E por falar nos caminhos tortuosos de nossa "luta vã e inglória", acabamos parando no Boteco do Frei. Um bar grande e aparentemente limpo (unca acreditei em botecos limpos para dizer a verdade...), música audível (boas escolhas, mas interpretações regulares. Afinal, nós somos exigentes!), cerveja gelado, pelo menos é o que dizem e porções mixurucas (mas, lembrem-se estamos quase todos de dieta...).      
Não sei ainda quanto tempo irá durar essa relação: eu, meus amigos e o novo boteco. Aliás, prefiro não fazer nenhum tipo de prognóstico quanto a isso. Mas, como já disse o meu poeta favorito, exímio frequentador, apreciador, admirador e acima de tudo devoto de botecos “Que seja infinito enquanto dure!"          
PS: Os nomes de algumas pessoas (Aquelas que continuam vivas, pelo menos assim eu acho) e dos estabelecimentos que continuam abertos, pelo menos assim estavam até o último sábado, foram alterados para preservar a identidade dos mesmos (?!) e evitar assim algum tipo de processo judicial ou represália a essa que vos escreve, ou seja, "euzinha" aqui! (CM, 14 Mar. 2011, Verão)      
             

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