domingo, 13 de março de 2011

Uma pedra, dentro da noite veloz

 

A minha ideia inicial era escrever algo sobre o Enem, já que a publicação deste texto irá acontecer poucos dias após a realização do Exame Nacional do Ensino Médio. Prova que tem por ambição equiparar por meio de uma única avaliação o ensino médio aplicado nas cinco regiões do país. Acontece, porém, que algumas ideias são simplesmente atropeladas por urgências maiores. Assim, outro dia voltando para casa tarde da noite sem que ninguém pudesse esperar uma pedra partiu o vidro do ônibus em que eu estava. E por mero e inexplicável acaso não feriu ninguém.
Ao empregarmos conceitos da física, matéria que compõe o currículo do ensino médio e é cobrada no Enem, com a velocidade final que a pedra alcançou, ela poderia ter causado bem mais do que um simples susto em mim e nos outros passageiros. Para falar a verdade, àquela pedra me atingiu bem fundo, desestabilizando julgamentos formados e ideias em construção, por fim, bagunçando tudo. Em situações como esta a pergunta é sempre a mesma: “Por que?”
Definitivamente, não acredito que tenha sido apenas uma simples e inofensiva brincadeira, mas sim a resultante de uma somatória que começou há muito tempo. Pode parecer lugar comum, entretanto, ainda acredito que a violência deriva, pelo menos na maioria das vezes, da sociedade estratificada qual vivemos hoje. A vergonhosa distribuição de renda, a falta de direitos primários ao homem, como: moradia, alimentação, educação, saneamento-básico e saúde.
Tudo isso, fomentado pela inexistência de possibilidades de mudança. O jovem que prestou Enem no último dia 31 de Agosto, quase sempre, vê no PROUNI a tão sonhada tábua de salvação. A chance, não de estudar, pesquisar e crescer intelectualmente, mas de ter um diploma que vai tarimbá-lo para o mercado de trabalho. A realidade educacional é no mínimo díspar em cidades como São Paulo e Manaus, porém mesmo assim, seus estudantes são avaliados com a mesma prova. Não precisa ser um sociólogo para saber que os métodos de ensino do Colégio Bandeirantes é muito distinto do de uma escola ribeirinha a beira do rio Amazonas.
Não quero deste modo, dizer se o programa é bom ou ruim, mas apenas lembrar que ele é uma medida paliativa para estancar uma ferida antiga, ainda aberta. E como tal, deveria ser utilizado por tempo determinado. Melhorar a educação de base, criar novas vagas no ensino superior público, sem sucatear ainda mais a universidade. Estas sim deveriam ser as preocupações do Estado. (C.M, 2008, Inverno).

Nenhum comentário:

Postar um comentário