segunda-feira, 18 de abril de 2011

Gente de verdade à procura de gente disponível de verdade

“Preciso sim, preciso tanto de alguém que aceite tanto meus sonos demorados quanto minhas insônias insuportáveis.”
 (Caio F.)

Depois de um fim de semana simplesmente maravilhoso! Daqueles que fazem você ter a certeza de que realmente à vida vale a pena e, como adoram repetir os poetas, é bonita! Me peguei pensando, se ainda existe espaço para a solidão em minha vida? Não essa solidão construtiva e providencial, que nos permite refletir sobre nossas próprias existências, colocar a casa em ordem ou, até mesmo, criar algo que nos dê a sensação de um passo a mais (e no meu caso me inspira a escrever). Mas, aquela solidão aterradora que incomoda o homem desde o princípio de tudo. Aliás, não só nos míseros humanos, mas deuses, semideuses e afins, pois até o Todo Poderoso resolveu nos criar por algum motivo, concordam comigo?! A resposta é não. Não existe mais espaço para lamúrias, esperas, ilusões/desilusões e lágrimas em pleno sábado à noite, só porque alguém no mundo decidiu que tem algo mais importante a fazer do que me fazer sorrir. Meu sorriso agora é total responsabilidade minha. E vou muito bem, obrigada!                               
Não dá para sujeitar o seu bom humor ou a falta do mesmo as ações de uma pessoa que não seja você própria. Claro, que às vezes bate o desespero e aquela enorme vontade de gritar: “por que é que tem que ser assim? Por que, heim?!” Mas, acreditem em quem já chegou a esse ponto, ninguém responde. O mundo não vai parar só porque você está sofrendo. E nem deveria ser diferente, ok? Sem querer ser mais chata do que o habitual, tem um monte de gente no planeta com problemas bem maiores do que um coração partido. Mais uma vez, acreditem em mim!                                                                               
Nesse caso, a única coisa a fazer e levantar a poeira e tentar dar a tal volta por cima, entretanto, antes disso pense um bocado sobre o que motivou a mal fadado momento em que você está atravessando agora. Ah! Já sei o que você está pensando: “esse é mais um texto auto-ajuda em meio a tantos outros postados na internet”. Primeiramente, preciso lembra-los que essa expressão “auto-ajuda” é uma das mais mal entendidas de nossa língua e, muito provavelmente, de outras também. Já que na verdade (pelo menos em grande parte desse, vamos dizer assim, gênero textual), o único a ser ajudado é o próprio autor, que é bastante vendido. Bastante lido. E, ainda por cima, ganha bastante dinheiro! Ou alguém ainda duvida disso?! Agora que já consegui esclarecer o primeiro equivoco, vamos ao segundo: “Não! Esse não é um texto de autoajuda e nem tem a menor pretensão de sê-lo, ok?!”; na verdade, eu só estou cansada de algumas coisas e principalmente de determinadas atitudes ou falta das mesmas que se multiplicam cada vez mais e mais em nossa sociedade dita pós-moderna. Sim, pois além daquelas pessoas que não querem se responsabilizar por sua própria felicidade, ou seja, tomar as rédeas de sua vida e ficam esperando a cavalaria chegar e resolver tudo no final (já digo de antemão que nenhuma cavalaria virá e não adianta ficar esperando) existem, também, aquelas que não resolvem os seus traumas, varrem todas as suas neuras para debaixo do tapete e um belo dia resolvem entrar na vida da gente, como inocentes e bem intencionados seres livres e disponíveis. Porém, um dia com a mesma rapidez em que adentraram em nossas histórias, começam a procurar a porta dos fundos para baterem em retirada, tentando nos transformas em pessoas tão traumatizadas e neuróticas quanto elas próprias.                                                                                            
Depois de refletir muito sobre situações como essa (pois, conheço bem o tipo, literalmente já vi esse filme mais de uma vez...), comecei a pensar o que fazer para não levar gato por lebre e passar por isso de novo. Assim, apenas três alternativas vieram a minha mente: a primeira é rezar e torcer, torcer e torcer para pelo menos uma vez na vida me dar bem! Mas, acho que não adianta muito, não é mesmo? – a segunda é fazer uma verdadeira investigação policial, com direito à junta médica e psicológica para analisar todo indivíduo que você conhecer, mesmo e principalmente aqueles que já chegam com algum tipo de referência. Entretanto, essa parece no mínimo complicada! E, por fim, não deixar mais ninguém entrar em minha vida e tomar a mesma medida do “eu-lírico” do Chico no lindo e triste “Samba do grande amor”, ou seja, mudar de calçada toda vez que pintar alguém interessante em seu caminho. Essa, com toda a certeza, é a mais segura das três. No entanto, não vale a pena, podem ter certeza disso.                                              
Então, o que fazer? A resposta mais sincera que eu consigo dar nesse momento é: “eu não sei”, definitivamente não existem fórmulas prontas ou atitudes verdadeiramente acertadas. Por isso, acho que deveríamos tentar uma campanha de utilidade pública, com duas regras básicas; a primeira seria - todo mundo deve ser informado e convencido de que é o único responsável por sua própria vida (e, principalmente, por sua felicidade) e tudo de bom e ruim que isso implica! E, a segunda regra - deveria ser totalmente proibido com pena prevista por lei e inafiançável (é claro!), alguém invadir nosso mundinho sem estar pronto para isso e com real intenção de permanecer nele, por muito e muito tempo... Chega de gente medrosa, insegura, perseguida por fantasmas do passado, do tipo que não quer ou não pode se entregar de verdade e viver uma relação madura, sincera, com direito a todas as delícias (que são muitas, pode crer!), mas também com toda a rotina, mau humor e discussões bobas ou importantes que implica uma relação a dois. Desculpem-me, mas gente assim deveria ficar em casa assistindo um filme lado B ou lendo um bom livro (sugiro os dois exemplares de D. Quixote) nos sábados à noite e não circulando em bares, festas, baladas, livrarias ou exposições, já que são extremante perigosas a nossa saúde emocional/mental, uma vez que esse tipo de coisa é realmente contagiosa e exige quarentena absoluta.                                                                                                                        
Assim, ou se está disponível de verdade ou fique na sua, mas sem tentar pirar de vez nossas cabeças ou reduzir a zero nossa já tão prejudicada auto-estima, com atitudes egoístas, infantis e estúpidas, conversas vazias, sorrisos esfíngicos e emoções pobres. Definitivamente, se é só isso que você tem para dar esquece, ok?! Pois, ninguém precisa de tão pouco para sorrir e rir das deficiências alheias vai contra os meus princípios. (C.M, 18 Abr 2011, lua cheia-Outono) 
                                                                  

domingo, 3 de abril de 2011

Uma moça e um rapaz (ou uma história de monstros e dragões)


Ela nem sabia há quanto tempo estava em um estado de gravidez existencial. Sim, estava es-pe-ran-do. Não outra vida, mas a volta de sua própria vida, sem ter muita certeza que isso fosse possível, e por isso encontrava-se estagnada. Passaram-se horas, dias, semanas e talvez até meses e ela a espera de um telefonema, ou um e-mail, ou de um SMS, que lhe devolvesse a alegria perdida e lhe arranca-se daquele estado de prostração.                                                                                                            
Mudara de cidade é bem verdade! Pois, pensara que novos ares poderiam ajuda-la. No entanto, de nada adiantou. Sabia que ali não iria encontra-lo no meio de uma caminhada; uma ida solitária ao cinema ou necessária a uma padaria ou ao supermercado. Há não ser se ele viesse a sua procura. Mas, isso ela sabia que não iria acontecer. Então, porquê não resolvia esquece-lo de vez?                                                             
 Nas poucas vezes que o encontrara após o fim derradeiro, fora tanto o silêncio em meio a olhares furtivos e tristes gargalhadas mudas e ocas, cigarros estragados, álcool e Rock-'n'-roll. Depois, as lágrimas escorrendo gordas e quentes, a maquiagem borrada e a vergonha por sua fraqueza ou pela falta de dignidade que tal sofrimento lhe impunha.                                                                                                                             
Assim corria o tempo, e em meio à espera esquálida, aos cafés fortes e frios, ao trabalho cansativo, aos cigarros - sempre com a presunçosa promessa de “eu vou parar! Ah! Eu vou...”, a fumaça dos automóveis e a luz das ruas, que não eram as ruas de sua cidade, mas as solitárias ruas do exílio. E nessa hora lembrava-se sempre de Caetano Veloso e começa a cantar baixinho: “I know they keep the way clear, I am lonely in London without fear. I'm wandering round and round, nowhere to go; ela que cada dia ficava mais magra, mais loira, mais ruiva, mais morena e cortava os cabelos e mudava a cor do esmalte ou de perfume e trocava os móveis de lugar, em uma tentativa meio infantil de libertar-se então, pois apesar de tudo adorava rituais e recomeços.            
E, assim, continuava a checar os e-mails, o celular e a secretária eletrônica sem se ater ao fato de que de repente ele não tinha mais o seu endereço eletrônico ou seus números; ou mesmo não quisesse ou tivesse nada para lhe dizer.                                                      
Tão ocupada estava a cuidar de um amor moribundo, que nem se dava conta dos telefonemas, mensagens e e-mails dos amigos e das tentativas meio gauchescas de flertes por parte de amigos de seus amigos e muitas vezes até de alguns estranhos. E quando alguém vinha lhe indagar, sobre o que ela achava desse ou daquele? Aquele que havia sido apresentado a ela naquela festa, aquela mesma festa que ela sentira-se obrigada a comparecer e passara a noite toda se controlando para não tomar todas, ficar louca e ir embora em um rompante, fugindo de todos e principalmente da dor que sentia  e que ninguém mais era capaz de compreender. Ou do novo vizinho, do segundo andar, que aparecera de repente para pedir o endereço da academia do bairro e era tão solicito e tão bonito também ou do jovem alemão, estudante de intercâmbio, a quem ela dava aulas de violão e confessara-lhe um dia que escrevia poesias, pois se sentia terrivelmente só naquela cidade, tão longe de casa.                                                                                                                      
E sempre respondia com toda a sinceridade e gentileza do mundo: “que não havia notado”; ou “que ele era muito jovem”; ou “muito tolo”; ou “muito velho”; ou “muito alto”; ou “muito baixo”; ou “gordo”; ou “magro por de mais”. Porém, o que ela repetia o tempo todo para si mesmo, era: “que não era ele” e aí estava todo o problema.                   
Até que em meio a todo o caos sentimental o qual se encontrava, nessa tênue fronteira entre uma gravidez existencial, um desamor quase patológico e um luto interminavelmente necessário; eles começaram a conversar. Não havia ninguém por perto, não existiam amigos em comum, mas livros, músicas e viagens; “reli esse livro há pouco tempo!”– “nossa, é minha música favorita!” – “não acredito que você esteve lá!” - “poxa! eru também me sinto assim...”.    Fora um mundo de coincidências, gostos parecidos e sorrisos tão naturais quanto descuidados; havia também as novidades: “não, eu não vi esse filme, só escutei falar...” – “de que música você está mesmo falando?”– “vou ler esse livro, que você comentou, e depois conto o que achei!”- “que banda é essa?”. assim, cada vez mais eles iam se AproxiiiiiiiiMANDO.                                                    
 Foi quando se deu conta pela primeira vez de que já era outono e ela nem havia visto passar as outras duas estações anteriores, percebeu também que não lembrava exatamente quando havia ocorrido a última grande crise de choro e que já não ficava mexendo o tempo todo no celular e agora mal consultava a secretária eletrônica e os e-mails. Entretanto, ainda lembrava-se muito bem que em uma outra cidade havia uma pessoa capaz de desestabiliza-la totalmente, é verdade! Mas ali, naquele lugar em que se encontrava, naquele momento em que as tardes ensolaradas eram cada vez mais raras e o vento costumava levar as folhas amareladas das árvores da praça central em uma dança tão enternecedora quanto esplêndida, as esperas poderiam ser outras... (C.M, 02 Abr 2011, Outono)