Família
não é apenas sangue, não pode ser algo assim tão simples, já que nesse arranjo desarranjado
e até meio arbitrário de consoantes e vogais cabe o incomensurável. Família não
é, simplesmente, aquela que nós ver nascer é sim essa que nos faz querer viver.
Viver, acreditar e lutar sempre. São aqueles que vamos encontrando pelo caminho
e agregando aos nosso planos e sonhos e mal conseguimos acreditar que eles não
estiveram ali sempre. Também nos agregam, nos carregam e dividem os seus
projetos futuros e imediatos conosco, a ideia de estarmos juntos daqui há uma
década ou dali há alguns poucos dias para tomarmos um café no meio de uma tarde
chuvosa ou todas as cervejas do mundo em um sábado à noite, que não teria o
mesmo significado se não estivéssemos juntos, diante de todas as misérias e
belezas do mundo. Família de verdade pode até não ter nos conhecido na
infância, mas com toda a certeza estará ao nosso lado na velhice. A família é
formada por aqueles que não precisamos chamar, pois vão chegando no decorrer do
dia, da semana, do mês ou da vida na hora exata e se encaixam perfeitamente ou
quase as nossas existências tão pragmaticamente complicadas, exaustivas e
muitas vezes até solitária. Embora, assim que a família se faça presente, e
isso acontece o tempo todo, a solidão vai se desfazendo e outras matizes surgem
abruptamente em nós engendrando novas histórias. Claro que dentro da família, também,
ocorrem brigas, desentendimentos e pequenas ou gigantescas rupturas, já que
algumas vezes existem arestas que não podem ser aparadas momentaneamente ou
pelo resto de nosso dias. E aí, somos tomados por um sentimento de dor e
impotência que não deveria existir no meio da família, porém, existe e isso
apesar de apartar-nos de alguns, e muitas vezes nos dilacerar por dentro, não
nos faz ser menos família. Mesmo quando a cisão é irrevogável, o que foi
compartilhado em determinado momento obrigatoriamente ainda nos faz e fará família.
Sim, pois quando somos mesmo uma família automaticamente repartimos as nossas
almas com tudo aquilo que é luz e o que é duro, cheio de espinhos e cinzas
também. Uma vez que, ao lado da família os medos desaparecem. Inclusive o medo
de causar medo a alguém. Então, família
é esse pertencer sem papel, sangue, maternidade ou paternidade. Nos faz
entregues sem haver nada nesse mundo que nos obrigue a isso a não ser a própria
vontade de fazê-lo, já que não há médico, advogado ou juiz capazes de
tornar-nos ou não uma família de verdade. Procurei uma palavra que se adequasse
a todas essas conjecturas e definisse essa ideia de família e apesar da obviedade
e, também, da cafonice não encontrei outra melhor do que “amor”. Um amor que
acontece, simplesmente, acontece. Pois, ser família de verdade não é nascer
família e sim tornar-se família e nada mais.
segunda-feira, 25 de março de 2013
domingo, 17 de março de 2013
Não há graça...
Quando surgiu o bordão “Um tapinha não dói,
só um tapinha...”, apesar de tudo que estava implícito e explícito na tal
música, muita gente ainda tentou defendê-la dizendo que aquilo não passava de
uma simples brincadeira. Pensando nisso, lembrei de um amigo que sempre diz que
“toda brincadeira tem um fundo de verdade”, ou seja, o que é dito em tom ou forma
de uma “brincadeirinha inocente” na verdade serve para desescamotear os
preconceitos (tantas vezes velados) de quem faz a tal “brincadeira” e, também,
de quem se diverte com a mesma. Não consigo entender a noção de brincadeira da
maior parte das pessoas, no entanto, o que ando vendo por aí me assusta
bastante. Essa coisa de que é “só uma piada” é inaceitável. O que me parece é
que as pessoas andam em um estado tão profundo de letargia que rir dos
problemas do outro (não importando-se de qual seja esse problema) as fazem
fugir de seus próprios demônios interiores e por isso torna-se válido. Assim, explica-se
o gigantesco sucesso dos ditos stand-up, por exemplo. Não consigo vislumbrar um outro motivo
para que um indivíduo pague caro para assistir a um espetáculo de horror como
grande parte desses “shows de comédia” e ainda por cima se delicie ao escutar
um boçal qualquer humilhando um outro ser humano. Sei que a vida está cada vez
mais difícil para todo mundo, porém, essa com toda a certeza não é a melhor
saída. Claro que é ótimo rir de uma boa piada, entretanto, uma boa piada não
pode ser ofensiva, vexatória, machista, sexista, homofóbica ou difundir
qualquer tipo de preconceito por aí. Eu disse qualquer tipo, ok?! E caso os
pretensos humoristas de plantão considerem complicado fazer piadas “politicamente corretas”,
que procurem outra profissão, pois essa concepção só demonstra a sua inaptidão
para seguir adiante no humor. Em relação a ser chamada de chata ou
politicamente correta, não dou a mínima. Até considero isso um elogio e,
portanto, agradeço! Acho que devemos cada vez mais alargar o nosso olhar
crítico em relação a nossa sociedade e isso também implica em refinar o nosso
senso de humor. Já que rir de tragédias ou de piadas vazias e preconceituosas
só revela a gigantesca pobreza cultural e as inúmeras falhas de caráter de
todos nós. Abaixo, o link para um documentário extraordinário que discute de maneira
maestral essa questão que deve ser debatida de forma séria, cada vez mais. (CM, 17 de Março de 2013, Verão)
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