domingo, 17 de março de 2013

Não há graça...



Quando surgiu o bordão “Um tapinha não dói, só um tapinha...”, apesar de tudo que estava implícito e explícito na tal música, muita gente ainda tentou defendê-la dizendo que aquilo não passava de uma simples brincadeira. Pensando nisso, lembrei de um amigo que sempre diz que “toda brincadeira tem um fundo de verdade”, ou seja, o que é dito em tom ou forma de uma “brincadeirinha inocente” na verdade serve para desescamotear os preconceitos (tantas vezes velados) de quem faz a tal “brincadeira” e, também, de quem se diverte com a mesma. Não consigo entender a noção de brincadeira da maior parte das pessoas, no entanto, o que ando vendo por aí me assusta bastante. Essa coisa de que é “só uma piada” é inaceitável. O que me parece é que as pessoas andam em um estado tão profundo de letargia que rir dos problemas do outro (não importando-se de qual seja esse problema) as fazem fugir de seus próprios demônios interiores e por isso torna-se válido. Assim, explica-se o gigantesco sucesso dos ditos  stand-up, por exemplo. Não consigo vislumbrar um outro motivo para que um indivíduo pague caro para assistir a um espetáculo de horror como grande parte desses “shows de comédia” e ainda por cima se delicie ao escutar um boçal qualquer humilhando um outro ser humano. Sei que a vida está cada vez mais difícil para todo mundo, porém, essa com toda a certeza não é a melhor saída. Claro que é ótimo rir de uma boa piada, entretanto, uma boa piada não pode ser ofensiva, vexatória, machista, sexista, homofóbica ou difundir qualquer tipo de preconceito por aí. Eu disse qualquer tipo, ok?! E caso os pretensos humoristas de plantão considerem complicado fazer piadas “politicamente corretas”, que procurem outra profissão, pois essa concepção só demonstra a sua inaptidão para seguir adiante no humor. Em relação a ser chamada de chata ou politicamente correta, não dou a mínima. Até considero isso um elogio e, portanto, agradeço! Acho que devemos cada vez mais alargar o nosso olhar crítico em relação a nossa sociedade e isso também implica em refinar o nosso senso de humor. Já que rir de tragédias ou de piadas vazias e preconceituosas só revela a gigantesca pobreza cultural e as inúmeras falhas de caráter de todos nós. Abaixo, o link para um documentário extraordinário que discute de maneira maestral essa questão que deve ser debatida de forma séria, cada vez mais. (CM, 17 de Março de 2013, Verão)

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